domingo, 21 de novembro de 2010

"Alguém abre um livro" - Ruy Castro

Rio de Janeiro - "Outro dia, falando num encontro de livreiros, eu dizia que todos nós, que trabalhamos com livros - que os escrevemos, editamos, distribuímos, vendemos ou promovemos -, deveríamos nos sentir privilegiados. Nosso produto não anuncia na TV, não é vendido na farmácia junto com os xampus, fraldas e chinelos e, para ser apreciado, precisa ser lido linha a linha e ainda temos de lamber o dedo para virar a página. Mas, toda vez que um brasileiro abre um livro, o Brasil melhora.
Tal afirmação ameaça parecer um pieguice poética num país que, segundo o novo relatório divulgado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), pode estar em 73º lugar no ranking mundial de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) - o que, em si, já é uma vergonha -, mas, num dos itens mais importantes, empata com o Zimbábue, que, em 169º no ranking, é o mais atrasado do mundo.  

Nossos estudantes passam o mesmo número de anos na escola que os infelizes zimbabuenses - os que precisam lutar para não morrer de fome em criança ou de AIDS em adulto, além de ter de viver correndo do leão. Nossos garotos não têm um leão nos calcanhares e ainda podem empinar pipa na laje ou brincar de médico com a vizinha. Talvez por isto fiquem apenas 7,2 anos na escola, contra 12,6 anos da Noruega, que es´ta em 1º lugar no IDH.
Não se sabe o que os noruegueses fazem com tanta educação. Mas, o Brasil também não tem notabilizado pelos seus cientistas, filósofos ou professores. Na verdade, o que mais produzimos são cabeças-de-área, duplas caipiras e flanelinhas -e, se já é difícil hoje fazer um país com eles, imagine no futuro.
Por isso, quando alguém abre um livro por aqui, é por conta própria, à margem do Brasil oficial. Significa que essa pessoa tem uma meta pessoal e está usando a cabeça para persegui-la".

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